Muito além de uma simples questão estética, a obesidade infantil é considerada um dos principais problemas de saúde do século XXI.
De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde – OMS, o número de crianças com sobrepeso e obesidade pode chegar a 75 milhões em 2025, o que caracteriza a doença como uma epidemia.
Neste cenário, pais e familiares têm um papel fundamental para reverter esse quadro, principalmente, por meio do desenvolvimento de hábitos saudáveis antes mesmo da gestação.
Para entender melhor, acompanhe neste artigo o que é considerado obesidade infantil, como identificar se a criança está acima do peso, quais as principais causas e cuidados, doenças relacionadas e como prevenir.
O que é obesidade infantil?
A obesidade infantil pode ser definida como o excesso de gordura corporal em crianças de até 12 anos de idade.
O sobrepeso é identificado quando o peso da criança está, no mínimo, 15% acima da referência para sua idade.
Logo, é fundamental monitorar o crescimento dos pequenos ao longo do tempo, como forma de prevenir e controlar problemas futuros.
Como identificar se a criança está acima do peso?
A principal forma é monitorar a evolução da criança, por meio de informações como peso, altura, idade e sexo. A Caderneta da Criança, disponibilizada gratuitamente pelo Ministério da Saúde, é uma ferramenta importante para o acompanhamento destes e outros pontos fundamentais para o desenvolvimento da criança, do nascimento até os 10 anos de idade.
Com esses dados em mãos, é possível obter o Índice de Massa Corporal – IMC por idade e avaliar o estado nutricional dos pequenos.
É importante ressaltar que essa avaliação deve ser feita por meio de um acompanhamento médico ou de um nutricionista, para garantir a correta interpretação dos dados e o diagnóstico adequado.
Como está a obesidade infantil no Brasil?
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde – PNS 2019, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, mostram que 6 em cada 10 brasileiros estão com excesso de peso. Entre os adultos, o aumento foi de 12,2% para 26,8%, em 17 anos (período de 2002 a 2019).
Mas por que falar sobre os adultos? Pois eles influenciam diretamente os hábitos, as escolhas alimentares e o estilo de vida dos pequenos.
É o que refletem os números do Sistema Único de Saúde – SUS, de 2019. Entre as crianças acompanhadas na Atenção Primária à Saúde, observou-se que:
- 14,8% dos menores de 5 anos estão acima do peso, sendo 7% com obesidade.
- 28,1% das crianças entre 5 e 9 anos estão acima do peso, sendo 13,2% com obesidade e 5% com obesidade grave.
Quais as causas da obesidade infantil?
Junto à comunidade científica já existe um consenso quanto às principais causas da obesidade. Considerada uma doença multifatorial, o seu desenvolvimento pode ser determinado por um ou uma soma de fatores genéticos, ambientais, comportamentais e socioculturais.
Alguns dos principais fatores que influenciam o sobrepeso dos pequenos são atribuídos ao abandono da amamentação, aumento no consumo dos produtos com as chamadas “calorias vazias”, ou seja, muitas calorias e poucos nutrientes, diminuição na prática de exercícios físicos e o aumento do tempo em frente às telas.
Alimentação
Você já ouviu falar sobre imprinting metabólico?
O termo é usado para descrever um fenômeno no qual uma alimentação inadequada, introduzida precocemente, atua durante um período crítico e específico do desenvolvimento, podendo causar um efeito duradouro e persistente ao longo da vida do indivíduo, tornando-o suscetível a determinadas doenças.
O melhor exemplo de imprinting metabólico é a amamentação. Isso porque o bebê desenvolve uma autorregulação entre fome e saciedade, o que irá refletir nos seus hábitos alimentares precoces.
Ao introduzir fórmulas infantis ricas em carboidratos e gorduras pobres, por meio de mamadeiras, a criança pode não desenvolver essa autorregulação e mamar excessivamente, gerando uma predisposição para a obesidade.
Açúcares e gorduras
A falta de tempo influenciou diretamente na mudança de hábitos e comportamentos alimentares. Fica difícil resistir à praticidade dos alimentos ultraprocessados e seus pratos prontos em 5 ou 10 minutos.
Porém, esses alimentos são ricos em gorduras e açúcares. Seu consumo exagerado influencia na produção de hormônios ligados ao prazer, como a dopamina, e dão início a um processo de compulsão alimentar. Não é à toa que esses alimentos se tornam viciantes com o tempo.
No entanto, papais e mamães, é preciso estar atento aos malefícios do açúcar em excesso na infância, assim como gorduras, corantes artificiais, conservantes, entre outros ingredientes presentes nesses alimentos.
Falta de atividade física
Menos brincadeiras na rua, na quadra ou no parque. Mais tempo em frente à televisão, computador, tablet ou smartphone.
Assim como os hábitos alimentares mudaram, a rotina das crianças também sofreu fortes alterações. Os pequenos estão cada vez mais dentro de casa, sentados no sofá e em frente às telas.
O resultado é o sedentarismo que, combinado à má alimentação, se tornam grandes aliados para a obesidade.
Qualidade do sono
O sono é fundamental para a manutenção do peso, o controle hormonal e a prevenção de doenças crônicas. E não se trata apenas da qualidade, mas da quantidade de horas destinadas para dormir, uma vez que a insônia provoca diversos efeitos no organismo.
Um estudo mostrou que adolescentes com o hábito de dormir tarde e acordar cedo para realizar atividades escolares apresentavam maior concentração de gordura abdominal. Isso porque esse tipo de hábito não está alinhado ao relógio biológico e interfere no ciclo circadiano dos jovens.
Fatores emocionais
Depressão e ansiedade são problemas de saúde mental que podem afetar diretamente o comportamento da criança, assim como desenvolver a compulsão alimentar.
Além disso, sentimentos e emoções relacionados ao corpo, autoestima, padrões culturais, bullying e outros fatores podem estar associados à falta de interesse dos pequenos na prática de atividades físicas, por exemplo.
Fatores hormonais e genéticos
Nem tudo é culpa da alimentação ou falta de exercícios. A obesidade infantil pode estar relacionada a aspectos hormonais e genéticos, que, em alguns casos, antecedem o nascimento do bebê.
São exemplos disso, a obesidade dos pais, variações hormonais e até mesmo a redução no número de partos normais.
Quais os principais cuidados?
Ao identificar a obesidade infantil, é fundamental que os pais busquem ajuda especializada para o tratamento.
Além de comprometer a qualidade de vida do pequeno, o surgimento de doenças crônicas pode ser precoce em crianças obesas, assim como a redução na expectativa de vida.
Possíveis complicações futuras:
- obesidade mórbida;
- doenças respiratórias, como asma e apneia;
- osteoartrite;
- diabetes mellitus não insulino dependente;
- colesterol alto;
- hiperlipidemia;
- doença cardíaca;
- acidente vascular cerebral – AVC;
- hipertensão;
- alguns tipos de câncer;
- doença da vesícula biliar;
- gota;
- distúrbios alimentares, do sono e de humor.
Também há casos de desnutrição em obesos. Ao contrário do que se pensa, este não é um problema exclusivo de pessoas magras. Isso porque a deficiência nutricional está relacionada à baixa ingestão de nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais, e não à quantidade de calorias.
Outro aspecto fundamental são as doenças mentais, que podem ser desencadeadas pela obesidade, como a depressão, ansiedade, isolamento social, bulimia e anorexia.
Como prevenir a obesidade infantil?
O cuidado com os pequenos começa ainda na gestação, passa pelo nascimento, pelos primeiros meses de vida até a adolescência.
Não se trata apenas da criança. Prevenir a obesidade infantil envolve cuidados especiais com a alimentação, prática de atividades físicas, sono adequado e hábitos relacionados ao estilo de vida da família como um todo.
Confira algumas sugestões de como prevenir a obesidade infantil.
Gravidez saudável
O pré-natal possibilita acompanhar o crescimento do feto e impedir que o bebê nasça acima ou abaixo do peso.
Por isso, as mamães são incentivadas a ter uma alimentação equilibrada e a praticar exercícios físicos para gestantes. Além de manter um ganho de peso moderado, estas ações previnem a diabetes gestacional.
Fazer uso de suplementação na gravidez também é fundamental para a formação e o nascimento de um bebê saudável.
Leite materno
Além de fortalecer o vínculo entre mãe e filho, a amamentação oferece tudo o que os pequenos precisam para crescer de forma saudável.
O leite materno é o alimento mais completo que existe. É por isso que, tanto a OMS, quanto o Ministério da Saúde recomendam que este seja o único alimento dos bebês até os 6 meses de idade.
A amamentação também permite que o bebê desenvolva mecanismos reguladores de apetite e reconheça a sensação de saciedade. Daí a importância de aprender como amamentar seu pequeno, garantir a pega correta e os benefícios dessa prática.
Alimentação equilibrada
Prevenir a obesidade infantil reflete em uma reeducação alimentar da família toda.
Preparar as refeições em casa, ter uma variedade de frutas, legumes e outros alimentos in natura, evitar o excesso de gorduras, açúcar, comidas industrializadas e fast foods é um bom caminho para uma alimentação mais saudável.
O Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, do Ministério da Saúde, é uma publicação com diversas práticas que podem auxiliar as famílias.
Microbioma mais saudável
Estudos têm avaliado a importância de uma flora intestinal saudável para um bom equilíbrio do peso corporal.
Entre as medidas para um microbiota intestinal mais saudável estão a cautela no uso de antibióticos, dar preferência para alimentos orgânicos, consumir alimentos prebióticos e ricos em probióticos.
Menos telas, mais movimento
A televisão, o computador e o celular influenciam em um estilo de vida mais sedentário. Por isso, é importante que as crianças sejam convidadas a brincar, correr, pular, jogar futebol, andar de bicicleta ou praticar qualquer outro esporte.
O importante é que o pequeno desperte para uma prática e sinta prazer ao realizá-la.
Quando possível, os pais também devem se envolver nas atividades e proporcionar momentos em família.
Além do gasto energético, a prática de atividades físicas previne e trata a obesidade infantil e doenças relacionadas.
Sono adequado
É importante que a criança tenha uma rotina que garanta o mínimo de horas de sono. Algumas entidades, como a National Sleep Foundation – NFS, estabelecem uma quantidade de horas ideais dentro de cada faixa etária.
Alguns hábitos também contribuem para relaxar, reduzir o estresse e aumentar a qualidade do sono dos pequenos. São exemplos: meditação para crianças, ambientes menos iluminados, banho morno e distância dos equipamentos eletrônicos antes de dormir.
Hábitos familiares
Papais e mamães, uma alimentação saudável e equilibrada também é um ato de amor e cuidado.
Incentive os pequenos a participar de preparações culinárias, a escolher frutas e legumes na feira ou no supermercado, assim como a planejar refeições em família.
Resgate brincadeiras em grupo como esconde-esconde, dança, jogos com bola, mímica, entre outras.
A obesidade infantil é uma doença séria e deve ser tratada por profissionais capacitados, com o apoio de toda a família. Doses de carinho, amor e atenção são necessárias para o sucesso do tratamento, assim como para o crescimento saudável da criança.
Para saber mais sobre como manter os cuidados com a alimentação do seu pequeno, confira nosso artigo Guia da Alimentação Saudável Infantil: do nascimento à primeira infância.