Imagem de uma gestante com diabetes gestacional, fazendo um teste de glicemia, por meio do furo no dedo indicador. A imagem está fechada no corpo da gestante, que está sentada em um sofá bege. Ela veste uma blusa amarela, com uma camisa branca por cima e calça jeans.

O que é e como controlar a diabetes gestacional?

Descobrir que você está esperando um bebê é uma das experiências mais emocionantes e transformadoras da vida. Junto com essa alegria, pode surgir uma certa ansiedade diante das novas responsabilidades e cuidados, especialmente com a sua saúde. Entre as várias condições que podem surgir durante a gravidez, a diabetes gestacional é uma das mais comuns. 

Se é seu caso, saiba que essa é uma condição que pode ser controlada. Com o tratamento correto e um pouco de planejamento, é possível garantir que você e seu bebê fiquem bem na gravidez, no parto e nos anos seguintes ao pós-parto.

Neste texto, vamos explicar o que é a diabetes gestacional e compartilhar dicas práticas sobre como mantê-la sob controle para que você se sinta segura para viver essa fase tão especial.

O que é a diabetes gestacional?

A diabetes gestacional é definida como qualquer grau de intolerância à glicose que se inicia ou é identificado pela primeira vez durante a gestação. Ela pode acometer qualquer gestante, independentemente de a mulher ter diabetes antes da gravidez ou não. 

Como se desenvolve a diabetes gestacional?

As mudanças no metabolismo materno são essenciais para atender às necessidades do feto. Durante a segunda metade da gestação, ocorre o desenvolvimento de resistência à insulina (RI) como uma adaptação fisiológica. Isso é mediado pelos hormônios placentários que atuam contra a insulina, garantindo um fornecimento adequado de glicose ao feto. 

No entanto, em algumas mulheres que já apresentam algum grau de resistência à insulina antes da gravidez, como aquelas com sobrepeso, obesidade ou síndrome dos ovários policísticos, essa resistência poderá ser exacerbada nos tecidos periféricos. 

Ao mesmo tempo, há uma necessidade fisiológica de maior produção de insulina como um mecanismo compensatório da RI. Quando o pâncreas não consegue responder adequadamente a essa resistência, ocorre hiperglicemia de diferentes intensidades, caracterizando a diabetes mellitus gestacional (DMG).

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da diabetes gestacional é feito por meio do teste de tolerância à glicose oral (TTGO) ou uma única medição de glicose no plasma (em jejum ou aleatória). O primeiro é feito com uma coleta de sangue de uma a duas horas depois de ingerir 75g de dextrosol, um líquido muito doce. Dessa forma é possível avaliar como o corpo da mulher lida com os níveis elevados de glicose.

Valores de referência para diabetes gestacional

Segundo o Guia da Gestante com Diabetes Gestacional, da Sociedade Brasileira de Diabetes, a gestante deve fazer o exame de glicose no início da gestação e/ou entre 24 a 28 semanas. A mulher é diagnosticada com a condição quando seus valores estão desta forma:

 

Início da gestação
Glicemia em jejum Maior ou igual a 92 mg/dl 
Entre 24 e 28 semanas de gestação
Glicemia em jejum Maior ou igual a 92 mg/dl 
Glicemia após 1 hora Maior ou igual a 180 mg/dl 
Glicemia após 2 horas Maior ou igual a 153 mg/dl 

Quais são os fatores de risco para a diabetes gestacional?

Os fatores de risco para DMG  incluem uma variedade de aspectos relacionados ao histórico pessoal, condições médicas preexistentes e características demográficas, como:

  • Ser portadora de diabetes mellitus tipo 1;
  • Ter sobrepeso e obesidade pré-gestacionais;
  • IMC abaixo ou acima da faixa de normalidade;
  • Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP);
  • Diagnóstico de DMG em gestações anteriores;
  • Gestantes com 3 ou mais gestações anteriores;
  • Gestantes com 35 anos ou mais;
  • Quadro de síndrome metabólica;
  • Diagnóstico de hipertensão;
  • Apresentar pré-eclâmpsia;
  • Tabagismo;
  • Genética e histórico familiar.

Quais são os sintomas da diabetes gestacional?

A diabetes gestacional pode não apresentar sintomas evidentes. No entanto, algumas mulheres podem apresentar os seguintes sintomas:

  • Sede excessiva; 
  • Fome excessiva; 
  • Urinar com mais frequência;
  • Sentir cansaço extremo ou falta de energia;
  • Visão turva;
  • Infecções frequentes;
  • Náusea e vômitos.

A maioria desses sintomas podem ser sutis ou confundidos com desconfortos comuns da gravidez. Por isso, é crucial que todas as gestantes façam um acompanhamento pré-natal adequado, incluindo o teste de tolerância à glicose.

Quais os benefícios do tratamento adequado durante o pré-natal?

A diabetes gestacional geralmente é uma condição transitória, mas quando não diagnosticada e tratada adequadamente, pode trazer impactos significativos tanto na saúde da mãe quanto na do bebê, até mesmo anos após a gravidez. 

Por isso é importante manter o pré-natal e as orientações médicas em dia. 

Benefícios do tratamento adequado para a mãe

  • Menor chance de intercorrências durante a gestação, como hipertensão, pré-eclâmpsia e infecção urinária;
  • Menor chance de complicações antes e durante o parto, como distocia fetal – anormalidades de tamanho ou posição fetal -, aborto espontâneo, cesariana e/ou parto prematuro;
  • Menor chance de problemas pós-parto, como hemorragias, além de diminuição das chances de desenvolver diabetes mellitus tipo 2 e pressão alta.

Vale lembrar que o aleitamento materno, por mais de 3 meses, reduz o risco de diabetes tipo 2 após a gestação, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes. Por isso, a mãe que apresentar diabetes gestacional e tiver condições de amamentar pode favorecer a prevenção dessa condição.

Benefícios do tratamento adequado para o bebê

  • Menor chance de problemas associados ao desenvolvimento intrauterino, como malformações congênitas, parto prematuro e ser grande para a idade gestacional (GIG);
  • Menor chance de intercorrências imediatas pós-parto, como hipoglicemia (baixa de glicose), necessidade de UTI, problemas de respiração e hipocalcemia neonatal;
  • Maior chance de ter um índice de Apgar adequado – uma avaliação do pulso, reflexos, respiração e coloração da pele do recém-nascido, feita no primeiro e quinto minutos após o nascimento.

Benefícios ao longo da vida

Segundo os principais órgãos de saúde mundiais, as evidências atuais ressaltam que a exposição do bebê no útero à diabetes gestacional está associada com risco futuro elevado de doenças na criança. Controlar a glicemia materna, além de reduzir as complicações a curto prazo, reduz as chances de que a criança desenvolva obesidade, diabetes e alterações do metabolismo lipídico mesmo antes da adolescência.

Como tratar a diabetes gestacional?

A diabetes gestacional deve ser tratada de forma precoce e com acompanhamento da equipe de saúde envolvida para fazer o monitoramento dos níveis de glicose e o monitoramento fetal.

Consultas frequentes com o obstetra e, em alguns casos, com um endocrinologista, um especialista em diabetes e um nutricionista, são essenciais para monitorar a saúde da mãe e do bebê e ajustar o tratamento conforme necessário. 

Além disso, a gestante será incentivada a adotar uma alimentação saudável e fazer atividade física. Em alguns casos, quando a dieta e o exercício não são suficientes para controlar a glicose no sangue, pode ser necessário o uso de medicação. 

Mudanças na alimentação

Ter uma alimentação balanceada é importante para todas as gestantes, mas as que possuem o diagnóstico de DMG devem dar uma atenção especial ao que colocam no prato.

Um ensaio clínico que avaliou os efeitos da inclusão de frutas e vegetais no tratamento da diabetes gestacional dá uma ideia do quanto é importante priorizar esses alimentos nessa fase.

Os pesquisadores dividiram as gestantes em dois grupos: educação nutricional e intervenção nutricional. O primeiro recebeu apenas aconselhamento dietético sobre escolhas alimentares saudáveis ​​com base nas diretrizes do USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O segundo foi instruído a consumir uma xícara de frutas e uma xícara de vegetais diariamente, juntamente com a realização de exercícios (caminhada). 

Amostras de sangue, medidas antropométricas e dados dietéticos e de atividade física, registrados em diários de alimentação e atividades, foram coletados no início e no final do estudo e comparados entre os dois grupos. 

O grupo que priorizou as frutas e os vegetais consumiu mais fibras e mais antioxidantes, e a quantidade total de antioxidantes no sangue aumentou; teve melhora nos níveis de açúcar no sangue; teve redução em um marcador de inflamação chamado IL-6 e teve melhora nos níveis de colesterol “bom” (HDL). Isso mostra que recomendações alimentares específicas para essa condição devem ser priorizadas, com foco em nutrientes que auxiliem no controle da glicemia.

Uma gestação com mais movimento

Junto com a alimentação, os exercícios físicos podem ser aliados da gestante para uma gravidez mais saudável. E a prática adequada de atividade física diminui significativamente os riscos de DMG. 

É o que sugere uma revisão de artigos científicos sobre o tema. No estudo, os pesquisadores concluíram que, em comparação com níveis mais baixos de atividade física,  o aumento dos exercícios durante o primeiro e segundo trimestre pode reduzir o risco de desenvolvimento da diabetes gestacional em até 36%. A relação foi ainda mais forte no primeiro trimestre. 

No caso das grávidas que já tiverem o diagnóstico, o tipo e a frequência das atividades devem ser alinhadas e liberadas pelo médico que acompanha a futura mãe.

Medicamentos podem ser necessários

A insulina é geralmente o primeiro tratamento escolhido para controlar o açúcar no sangue durante a gravidez, especialmente quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes. Se não for possível usar insulina ou se for difícil acessá-la, outros medicamentos antidiabéticos podem ser indicados.

É possível prevenir a diabetes gestacional?

Embora não seja possível garantir a prevenção completa da diabetes gestacional, existem várias estratégias que podem reduzir o risco de desenvolvê-la. Aqui estão algumas dicas para ajudar na prevenção:

Um pré-natal de qualidade pode fazer toda a diferença

Fazer o pré-natal permite que seu médico monitore a sua saúde e a do bebê, identificando e tratando precocemente qualquer sinal de diabetes gestacional. Se possível, tente fazer mudanças na rotina e no planejamento familiar, para reduzir ainda mais os riscos.

A importância de manter um estilo de vida saudável em todas as fases

Lembre-se de manter um estilo de vida saudável durante todas as fases da gravidez. Isso inclui seguir uma dieta balanceada rica em fibras, frutas, vegetais e proteínas magras; praticar exercícios regularmente, e controlar o ganho de peso conforme as orientações médicas. 

Sabemos que se alimentar bem na gestação pode ser um grande desafio, em função de enjoos ou do paladar alterado. E que manter uma rotina de exercícios com as outras demandas do dia a dia pode ser desafiador. Mas um estudo feito com mulheres com alto risco de diabetes gestacional concluiu que mudanças no estilo de vida podem ser eficazes na prevenção.

Na pesquisa, 128 mulheres foram selecionadas aleatoriamente para receber intervenções no estilo de vida, incluindo orientação alimentar, educação em saúde e controle de peso. Outras 123 mulheres foram designadas aleatoriamente para o grupo de controle, recebendo apenas exames de gravidez regulares. Comparado ao grupo de controle, o risco de DMG foi reduzido em 46,9% no grupo que recebeu intervenção. 

Foco na alimentação

As mudanças na alimentação podem ajudar no tratamento da diabetes gestacional, como você viu mais acima, mas também são essenciais para quem busca a prevenção.

Se inspirar na dieta mediterrânea pode ser uma boa forma de prevenir a diabetes gestacional. Um estudo com 647 gestantes iranianas, das quais 77 foram diagnosticadas com diabetes gestacional, atribuiu à adesão a essa dieta durante o primeiro trimestre da gravidez como uma das formas de prevenir a condição. 

Isso, porque as participantes com maior adesão à dieta tiveram um risco 41% menor de desenvolver diabetes gestacional em comparação àquelas com menor adesão.

A gravidez demanda muitos nutrientes para mãe e bebê. Ter uma ingestão suficiente de alimentos de qualidade pode ser primordial para prevenir a diabetes, mas também fornecer saúde e bem-estar para mãe e bebê. Para continuar informada, confira nosso conteúdo completo sobre alimentação para gestantes.

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